Quando saí da casa da minha amiga na noite de hoje caía uma garoa fina e gelada. Ainda vestia a mesma roupa escolhida há mais de 24 horas. Caminhando pela Avenida Paulista, vi aquelas luzes, aquelas torres de TV, aquelas centenas de pessoas desconhecidas. Pensei nos meus primeiros meses aqui e em tudo o que vivi até me adaptar - e em todos os momentos ruins já passados nessas três décadas. Não foram poucos.
Em alguns desses momentos eu senti o chão abrindo sob meus pés; achei que não teria forças para continuar em frente. E, bom, eu continuei. Posso até arriscar dizer que me tornei uma pessoa muito melhor depois deles - use aqui todos os clichês de "transformar limão numa limonada" que você conseguir imaginar. Segurei a onda, respirei fundo, levantei a cabeça e segui em frente. Exatamente como eu preciso fazer agora.
Exatamente como eu vou fazer agora. Mas antes de continuar preciso aparar algumas arestas. Esse vai ser o post mais longo da história do blog. Prepare-se.
Como tudo realmente começou
Eu não sabia, mas esse blog começou a se desenhar ainda no ano passado. Eu tive um problema de saúde sério - mas, como quase todo mundo que procrastina tudo, eu não dei muita importância. Até que numa noite de sexo casual a coisa bateu forte: no meio da transa, eu fiquei seca e perdi totalmente o tesão. O meu cérebro o desejava, estava tudo bem, tudo perfeito, mas eu não consegui ir em frente. Ali eu percebi que a minha oscilação hormonal decorrente desse problema de saúda havia ferrado com tudo. Eu chorei. Literalmente. Eu chorei nua na cama com um quase desconhecido.
Eu chorei porque percebi que aquela Letícia fogosa tinha tirando férias. Minha mente pedia, meu corpo não respondia. Foi horrível. Fiquei alguns meses assim, até que no final de janeiro, fazendo tratamento, eu voltei a ter vontade de transar. Por isso que a história do número 1 é tão importante para mim, ainda que quase ninguém ligue pra ele. Foi naquela noite que eu voltei a me sentir viva. A sexualidade sempre foi de suma importância para mim, e ela estava de alguma forma adormecida. Sentir desejo e sentir meu corpo respondendo aos estímulos foi libertador.
Ali eu me senti mulher.
Ali eu voltei a ser a Letícia.
Ali eu comecei a celebrar minha feminilidade e a minha sexualidade. Foi muito maior do que a descoberta do prazer. Eu já sabia exatamente como o prazer sexual era e quanto ele fazia falta na minha vida. Eu redescobri meu corpo e ele, finalmente, voltou a me obedecer.
Voltei a ser livre.
Os cem homens
Eu estava radiante. E aqui vai mais um clichê para vocês: felicidade contagia mesmo. Comecei a sair com vários caras e achei muita graça na "média" de homens na minha vida. Era divertidíssimo. Não era só o sexo em si. Já comentei no blog e volto a repetir: uma relação sexual não é um encontro de órgãos sexuais apenas. Ela começa no flerte. Ela é o SMS fofo; ela é o perfume que você escolhe dentre tantos outros; ela é o sorriso largo do encontro. Claro que ela é, no meu caso, o momento em que você se sente preenchida fisicamente, mas esse é apenas o ápice de uma história que já começou antes - mesmo que apenas há poucos minutos.
Eu me diverti. Adorei o dia dos números 4 e 5, por exemplo. Sair de casa três da tarde e voltar sete da manhã, transar com dois homens diferentes e ainda ter um show de uma banda que amo no meio? Quem não quer isso? Foi sensacional!
E foi com uma conjunção de hormônios funcionando perfeitamente, paqueras que evoluíram e felicidade suprema que me fizeram pensar: e por quê não 100? Que mal eu faria a alguém? Eu uso camisinha, vou à médica regularmente e não traio. O corpo é meu. E ele é um verdadeiro parque de diversões.
O blog
O blog começou com outro nome, não lembro nem qual. Senti necessidade de escrever sobre as transformações pelas quais eu estava passando, como uma forma de eu conseguir colocar as coisas em perspectiva dali a meses ou anos. Nunca quis notoriedade. Nem pretendia ser lida! Era uma coisa me, myself and I. A Letícia ainda não existia. Só postei dois ou três textos por lá. Bem nessa época fui chamada para transferi-lo para aquele antigo site (há muitos posts explicando isso, não vou me repetir). Lá a coisa dos 100 homens ficou mais forte. É óbvio: enquanto o meu blog pessoal tinha uma pegada muito mais intimista, uma revista quer clique, quer chamar a atenção, quer ter audiência. Virou o "Sexo com cem homens". Foi divertido; conheci leitoras que me acompanham até hoje. Outras "se perderam" nessa transição, mas em contrapartida ganhei leitores homens.
Quando saí de lá, tive que ser identificada de alguma forma. Como não deixaram link ou rastro no antigo site, era preciso ter um nome parecido com o anterior, para que numa simples busca do Google as leitoras pudessem me encontrar. Não tive outra escolha a não ser continuar com o "Cem homens em um ano", mesmo que eu soubesse, desde sempre, que talvez eu não chegasse à tal "meta". Eu nunca me senti obrigada a isso. Sabia que poderia me apaixonar no meio da história, como de fato aconteceu. As pessoas se preocupam muito mais com os tais cem homens do que eu mesma. Esquecem que eu sou uma mulher, e não uma máquina.
O que me impulsiona
As pessoas têm diversas teorias sobre os motivos pelos quais eu saio com vários homens. A verdade, porém, é uma só: eu saio porque eu posso. Sim, a explicação é tão simples quanto isso. Sou solteira e saudável. Felizmente chove na minha horta e eu gosto demais de sexo. Não, eu não tive nenhuma grande desilusão amorosa. Já tive relacionamentos que não deram certo, mas nenhum deles foi gravíssimo a ponto de eu desenvolver algum trauma e resolver "me vingar" dos homens (aliás, isso é muito novelesco). Já me apaixonei, já se apaixonaram por mim, já transei com amor, já transei sem amor, já transei com um puta tesão, já transei para aplacar a tristeza. As vezes que foram ruins foi simplesmente porque foram ruins. Não me senti usada, tampouco me arrependi. Provavelmente eu deveria ter ficado em casa vendo novela em algumas noites, mas pelo menos eu vivi. Não engravidei, não peguei doença, não fui machucada. Vivi. Arrisquei buscar a felicidade. Nem sempre deu certo, mas você conhece alguém que sempre se dê bem?
Sexo casual não é feito sem carinho
Outra coisa que as pessoas sempre dizem é que sexo casual é frio. Pode ser, sim, mas o mesmo pode acontecer num relacionamento, ainda que as pessoas se amem profundamente. Muitas vezes casais continuam juntos por conta do amor ou da bagagem bacana carregada juntos, mas não se sentem mais atraídos um pelo outro. Devo ter sido usada apenas como um buraco por algum homem? É provável. Eu me importo? Talvez já tenha me importado no passado, mas ultimamente eu só tenho conhecido homens muito, muito bacanas. Alguns podem até não combinar muito comigo na cama, mas me respeitam, me querem bem, e fazem de tudo para me satisfazer.
Eu também ajo assim com eles. Me preocupo com o prazer, não falo bobagens, preservo a identidade deles (podem ver que as descrições de como eles são não passam do superficial; não falo sequer qual a profissão deles). Hoje, por exemplo, no meio daquele turbilhão de centenas de milhares de acessos ao blog, eu recebi um telefonema. Era de um leitor de fora de São Paulo. Ele me apoiou, conversou comigo, me mostrou outras saídas. Antes que digam que ele só fez isso para me arrastar pra cama, eu devo dizer que passei 36 horas com ele recentemente. Ele não precisa mais disso - vou para a cama com ele a hora em que ele quiser. Sabem por quê? Alé da questão sexual, ele mostrou humanidade e companheirismo que às vezes não se encontra num namorado. Portanto, tirem da cabeça que minhas relações são superficiais e vazias. Algumas são, sim, mas é tudo muito honesto, dos dois (ou mais) lados.
Porquê eu me abato com as críticas
Porque eu sou humana. Porque ninguém, por mais forte que seja, consegue ler tanta asneira e ficar imune. Além disso, eu estou com problemas na minha vida pessoal/profissional, então tudo se torna maior, mais grave, mais doloroso. Me irrito, também, porque as críticas são simplesmente injustas. É tão absurdo e tão chocante que eu me revolto, como eu me revoltaria se fosse com uma desconhecida (guardadas as proporções, lógico).
Sei também que, como disse uma amiga ao telefone há pouco, eu abri a minha vida pra vocês - e isso dá margem às pessoas opinarem. "É como acontece com nossos amigos", ela disse. De fato. Porém, dificilmente um amigo vai te dizer SUA PUTA após você contar alguma coisa. A internet deixa todo mundo mais valente (e mais grosseiro).
Mas há um lado meu que aflorou fortemente com essas questões: eu tendo a supervalorizar as coisas ruins. Os comentários/emails negativos aparecem em quantidade ínfima se comparados aos relatos de gente bacana. Mas em que tecla eu bato? Na da chateação! Como resultado, vi que ainda tenho muito o que aprender ainda. Preciso controlar meus impulsos de mulher ranzinza. É provável que volta e meia eu reclame, me sinta uma "vítima" e coisas do tipo. Mas pelo menos eu já percebi o problema e estou disposta, mesmo, a parar de reclamar. É um defeito meu que carrego desde que me entendo, e old habits die hard, vocês sabem.
Largar o blog
Apesar de toda a dor de cabeça, eu não posso ignorar o caráter positivo que o blog teve na vida de algumas pessoas. Algumas pessoas veem isso como uma demagogia minha. Numa boa, fodam-se. Se você não gosta de fazer o bem, amigo, você tem problemas mentais - e não eu. Eu gosto de ser boa e de fazer diferença na vida de alguém.
Além disso, let's face it: eu fui mais lida nos últimos dias do que alguns colegas serão em toda a carreira. O ótimo Alex Castro (foi em uma conversa louca nossa que surgiu a ideia do tumblr) tem uma frase que eu gosto muito no site dele. Indagado sobre o motivo pelo qual ele escreve, ele respondeu: "Eu escrevo ficção porque sim. Porque não consigo não escrever. Se conseguisse, não escrevia. Mas sou fraco". Eu não escrevo ficção, mas tirando essa palavra, a frase poderia ser minha. Eu escrevo porque escrevo; porque faço isso na vida desde sempre; e vou continuar fazendo.
É claro que o blog já mudou de cara algumas vezes - e continuará mudando. Continuarei falando sobre sexo, mas não esperem que a contagem continue aqui. Não vai acontecer mesmo. Talvez eu perca leitores, sim, mas a superexposição tem um preço.
Este aqui continuará sendo um espaço para discussão sobre sexo. Um espaço aberto, livre, sem rótulos ou preconceitos. Um lugar onde poderemos nos surpreender com o outro, abrir nossas mentes. Assim, se você tem alguma história que ver discutida aqui no blog (sua identidade jamais será revelada), mande um email para minhahistorianoblog@gmail.com.
Os comentários ofensivos continuarão sendo excluídos, os emails toscos continuarão indo para o Tumblr, e eu vou tratar neste blog do que eu estiver a fim. Eu sou dona de mim mesma, do meu corpo, da minha mente e da minha paz. Não vou mais deixar que me atinjam com comparações exdrúxulas ou xingamentos desnecessários. Chega de mimimi.
Hoje foi um Bad Day, mas Michael Stipe tem a resposta para isso. Endereço do Blog clique aqui.
Livre arbítrio! Sucesso! Di verdad!!
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