Os riscos dos anabolizantes

O desejo de exibir um corpo perfeito com músculos à mostra e barriga sarada é compartilhado pela maioria das pessoas que freqüentam as academias de ginástica. Obter esse resultado exige trabalho árduo, mudança nos hábitos alimentares e até no estilo de vida. Mas nem todos querem se sacrificar para adquirir a estética perfeita e encontram a solução nos anabolizantes sintéticos e até remédios de uso veterinário. A prática é condenada pelos endocrinologistas, alguns profissionais de educação física e personal trainner, já que os efeitos das drogas no organismo podem causar sérias doenças, e em determinados caso até a morte do indivíduo.



Os problemas mais comuns são lesões hepáticas (fígado) e renais, problemas nas articulações, na coluna, impotência sexual, diminuição dos testículos, queda de cabelo, inibição do organismo na produção de testosterona e ginecomastia (aumento da mama masculina). Mesmo conscientes dos riscos que correm utilizando os produtos, os amantes dos anabolizantes insistem em ignorá-los, já que as doenças não têm prazo para aparecer e em muitas pessoas nem se manifestam.

De acordo com o endocrinologista Osmário Salles, o que acontece é a dismorfologia, ou seja, o contrário da anorexia. “As pessoas querem ficar cada vez mais fortes e obter os resultados de trabalho de um ou dois anos em menos de um mês. Como isso não é possível de forma natural, utilizam os anabolizantes”, explica. As substâncias mais procuradas são Durateston (testosterona sintética), Oxodranlona, GH (hormônio do crescimento), Deca, Winstrol (definir o corpo), Lipostabil (quebra das partículas de gordura) que já foi banido do mercado.

Ainda tem os remédios para animais como o ADE. O personal trainner e dono da academia Frajola Fitness, Flávio Melo, explica como é feito o uso dessa substância. Segundo ele, o frasco com 300ml custa cerca de R$ 20 e dá para várias aplicações. “O remédio é utilizado para engordar o cavalo. Para cada 150kg do animal é injetado 2ml uma vez no mês. Mas as pessoas tomam essa quantidade (2ml) dia sim e dia não”. Além do produto não ficar na corrente sanguínea, a utilização em excesso pode causar até a necrose do músculo, já que fica em contato com o mesmo.


O uso dos anabolizantes provoca uma aparência ilusória. Segundo Melo, a sensação de que a pessoa está mais forte é provocada pela retenção de líquido, que fica entre a pele e o músculo. Outra ilusão é de que o indivíduo fica mais forte, pois como o músculo está drogado a carga de peso aumenta em até cinco vezes ou mais. Mas o esforço e as séries repetitivas podem acarretar em rompimento do tendão, tendinite e até fratura, já que o organismo não foi preparado de forma devida.


“O que acontece muito é que as drogas são mais baratas que os suplementos alimentares e as pessoas costumam procurar o método mais fácil para conseguirem seus objetivos”, observa Melo. Os suplementos, segundo Melo, são indicados para atletas, que precisam repor determinadas substâncias que nem sempre são encontradas nos alimentos. A estimativa do personal para a procura e uso das bombas é de homens com idades entre 15 e 30 anos, e mulheres entre 17 e 15 anos.


Além de serem baratos, os anabolizantes também são fáceis de encontrar. Lojas de suplementos, farmácias, lojas de produtos agropecuários e até pessoas que se dizem enfermeiros e nem sempre sabem qual o local correto para fazer a aplicação. “Não tem como ter controle. Em cinco anos o consumo das substâncias cresceu cerca de 100%. E é difícil saber quem usa, pois ninguém assume”, complementa Melo.


A busca do peso ideal motivou o estudante de educação física e instrutor de academia, que não quis se identificar, a usar o anabolizante Winstrol Simon quando tinha 17 anos. “O personal treinner da academia que eu malhava me aconselhou a usar o remédio, passei três meses usando e depois parei”, conta. Segundo o rapaz, que atualmente tem 21 anos, após a aplicação ele sentia formigamento no corpo, sempre tinha febre e a adrenalina aumentava. Além disso, os locais da aplicação ficavam com hematomas e coágulos.

O saudável é uma alimentação rica

“Perdi 24kg em três meses. Quando parei de tomar engordei 8kg e fui direto no endocrinologista. Minha mãe nem sabia, contei a ela depois. Hoje em dia percebo que não há necessidade de utilizar essas substâncias”, revela um estudante. Ele diz que sempre gostou da prática de esportes e na época além do anabolizante, corria, malhava e praticava Tae-Kwon-Do.


Já o estudante de educação física e dono de academia, 33 anos, sem se identificar, não vê problemas em utilizar o hormônio masculino testosterona. Segundo ele, o remédio Durateston, indicado para reposição hormonal, dá um estímulo maior para retomar as atividades. “Eu malho há 15 anos, mas utilizo esse anabolizante há cinco, pois ele aumenta a força, o apetite sexual, o peso e a massa muscular”, informa.


Mesmo consciente dos riscos que a droga pode causar como vício e até a falta de produção da substância pelo organismo, o dono de academia garante que não utiliza o Durateston com freqüência. “Uso uma vez por ano. Tem três meses que eu tomei. Faço a aplicação durante um mês e cada semana aumento a dose. Mas faço isso pra mim, não conto a ninguém, mesmo porque é antiético”. Para se assegurar de que a bomba não causou nenhum dano no corpo, ele vai ao médico e realiza exames antes e depois do uso. O mais indicado para conseguir o corpo perfeito, segundo o endocrinologista Osmário Sales, é manter uma alimentação saudável rica em frutas, verduras, folhas e carnes magras; praticar atividade física com orientação profissional e fazer uma avaliação com um médico. “Ao realizar exercícios na medida certa a pessoa adoece 10 vezes menos e envelhece duas vezes menos, mais isso após os 60 anos”.